DEZ292022 Ano Novo e os Desafios do Trabalho

Ano Novo e os Desafios do Trabalho

Por Frederico Binato e Ricardo Junqueira

Em uma obra de fôlego, densa e com quase 1000 páginas, o renomado sociólogo italiano, Domenico De Masi, escreveu o livro O Trabalho No Século XXI, por meio do qual traça um panorama completo das relações estabelecidas na história, desde a escravidão ao trabalho remoto, com a inclusão da COVID-19.

Advogando para empresas há muitos anos, isso nos permitiu não só atuar nas defesas e estratégias jurídicas, mas também entender as dores pessoais dos empresários. Sim, não nos esqueçamos de que as empresas são feitas de gente e que essas gentes estão a ocupar cargos e funções dentro dela. Portanto, as angústias e sofrimentos dessas pessoas no comando das empresas se revelam quando o observador, advogado, não está ali só pra cuidar do imediato, da aflição ou de dar um conselho técnico-jurídico. Outras coisas se notam.

E é nesse sentido que chamamos a atenção para que as relações interpessoais sejam  vistas pela empresa, não como e apenas uma maneira de balisar o lucro, mas que o ser humano que está ali seja visto como tal e que como tal tende a agregar se enxergar e sentir que o crescimento pessoal dele está contido na política de RH da empresa.

Se por um lado a tecnologia veio para proporcionar maior acesso à informação e desenvolvimento das tarefas com mais velocidade e eficiência, por outro, estar atento ao desenvolvimento das pessoas e reconhecer isso nelas, além de agilizar decisões, provoca o sentimento de reconhecimento do bom trabalho.

É notório isso quando vemos  o próprio empresário, humano que é, após as tratativas jurídicas, querer continuar a falar sobre outras questões que envolvem a sua empresa, mas que por somente focar no imediato não o faz. Mais ainda, lidando com empresas familiares e praticamente todas as são, notamos também que às vezes a mesma dificuldade em dialogar com um empregado mais simples e menos importante na hierarquia administrativa da empresa existe em relação aos filhos que ele, empresário, pretende que esteja à frente de seu negócio.

A proximidade das relações interpessoais frente ao uso inexorável da tecnologia, sem dúvida alguma será um grande desafio a ser desvendado como forma de superação do cansaço físico, mental e intelectual, em um mundo que, segundo De Masi, desafia o trabalho formal e o não trabalho.

Procuramos nos aproximar cada vez mais dos empresários, para, numa relação de confiança e percepção mais aguda que o direito nos permite ter, mostrar para ele que, se afinal a empresa existe é porque o ser humano que a compõe é quem lhe dá suporte e não o contrário, incluindo-se aí, obviamente, todos. Não se suportam mudanças sem e perfeita sintonia entre todos os envolvidos no ecossistema de gestão. Eis o desafio.